segunda-feira, 14 de junho de 2010

Capital do Blues

Gosto tanto dela assim

A cidade de Brasília, como se sabe, foi referenciado numa música de Djavan que também foi gravada por Caetano Veloso. O trecho que se refere à capital do país, nesta música que se chama "Linha do Equador" diz:

"Céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha música de preto
Gosto tanto dela assim"



Como muita das músicas de Djavan, as referências são sempre assim meio jogadas priorizando a rima e a correlação existente entre coisas distantes. De modo que o céu de Brasília. que ganha destaque graças ao traço do arquiteto que priorizou uma cidade horizontal no qual o belo e reluzente céu surge como parte integrante deste cenário, aqui aparece próximo da música de preto. Mas, qual a relação?

Uma primeira relação - não necessariamente conscitente para Djavan que, salvo engano, nunca morou aqui - é a nostalgia e a saudade incurável que muitos dos habitantes sentem da sua terra natal. Afinal de contas, grande parcela da cidade veio de fora.

Uma segunda relação decorrente desta é que a música dos negros, que também sentiam esta saudade incurável quando trazidos para a América, também se faz presente na cidade. Não só a música dos negros brasileiros como também dos negros americanos.

Prova disso foi que o ano cultural começou com um show de ninguém menos que ele: B.B.King - o cara. Apesar de ter dito que sua carreira se encerraria na última turnê que fez, alguns anos atrás, ele começou o ano dizendo que havia desistido de encerrar a carreira e assim lançou a nova turnê "one more time".


Ver este papa, já próximo dos oitenta anos e que tem dificuldade até pra andar, fazer um show tocando, cantando e fazendo piadas como sempre o fez, é algo emocionante.

Poucos meses depois deste memorável show foi a vez do Festival de Blues de Brasília. Um festival com várias apresentações em diferentes lugares da cidade ao longo de um final de semana que começou na sexta-feira. Numa dessas apresentações estava ninguém menos que o gaitista Flávio Guimarães do Blues Etílicos - que, por assim dizer, animou minha festa de aniversário ano passado.

E neste final de semana, para consolar os solteiros da cidade no dia dos namorados, esteve presente aqui ninguém menos que a grande revelação do jazz atual Madalaine Pyerrox. Apresentando-se e fazendo piadinhas em português, a cantora deixou a todos de boca aberta e surpreendeu o público que já sabia o que esperar com um show de uma qualidade superior.

Com uma postura bastante humilde para uma musa do jazz, ela deu bastante espaço para sua banda que, a propósito, são tão bons quanto ela.

domingo, 6 de junho de 2010

A parábola da figueira

Ainda que a figueira não dê fruto


No dia das mães fui almoçar num restaurante cuja parte das mesas fica debaixo de uma grande figueira. Mas, grannnnde mesmo. A árvore deve ter lá seus trezentos anos ou mais. Possivelmente igual aquela que existia no lugar do shopping Dom Pedro em Campinas antes dela ser derrubada para a construção do empreendimento.

A princípio, não sabia que tipo de árvore era. Só depois que descobri que era a figueira e aí lembrei-me também da parábola da figueira onde Cristo faz referência à sua volta tomando como referência simbólica a figueira

"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. Aprendei, pois, da figueira a sua parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão." [Mateus 24:30-32]


Mas, esta não é a única vez que a figueira aparece na Bíblia. Pelo contrário, há outras inúmeras referências. Aliás, tantas que seriam suficientes para se elaborar um panorama da história toda narrada pela bíblia com base apenas nas referências à figueira como, por exemplo, quando Jesus chama Natanael para ser um dos seus discípulos:

"Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo! Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel. Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás. " [ João 1:47-50 ]

Outro discípulo de Cristo a utilizar também a figueira como referência foi Thiago, quando referenciou esta árvore para destacar a coerência entre ações e palavras que devem existir num cristão:

"Meus irmãos, pode acaso uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Nem tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. " [ Thiago 3:12-13 ]

Mas, não é apenas no novo testamento que a figueira aparece. Aliás, ela está presente desde o início quando Adão e Eva (vejam só) utilizam-se das folhas desta árvore para fazer o modelito das suas primeiras roupas:

"Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu m

arido, e ele também comeu. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. " [ Gênesis 3:6-7 ]


E assim como a figueira aparece neste início da história do homem na Terra, esta mesma árvore também está presente no final desta história conforme mencionado no livro do Apocalipse:

"E vi quando abriu o sexto selo, e houve um grande terremoto; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua toda tornou-se como sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira, sacudida por um vento forte, deixa cair os seus figos verdes." [ Apocalipse 6:12-13 ]

E assim as referências as figueiras se multiplicam. Sem a pretensão de destacar todas elas aqui, encerro com a citação de um provérbio que me parece a mais bela referência vinda do longíquo (porque quase nunca lembrado ou citado) livro de Habacuque:

"Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; (...) eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação." [ Habacuque 3:17-18 ]