terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Doces Poderes

A cidade sem esquinas



Hoje, ao ir embora do trabalho, notei a ausência das esquinas nas ruas de Brasília e lembrei-me de um filme nacional que assisti há muito tempo chamado "Doces Poderes".

Este filme tem uma tomada logo no início que mostra as ruas de Brasílias através da visão de alguém que a percorre de carro enquanto uma voz narrativa destaca a inexistência de esquinas na cidade.

E enquanto a câmera mostra a cidade, a trilha sonora fica por conta de uma música interpretada pela belíssima voz da Adriana Calcanhoto. Uma música que, diga-se de passagem, demorei uns cinco anos para encontrar a gravação - o que me fez, inclusive, percorrer toda a discografia da cantora que então dava os primeiros passos rumo à fama.

O nome da música é "Dona do Castelo" que salvo engano não encontra-se ainda em nenhum disco da cantora. Mas, que encontrei recentemente no youtube e agora publico no início deste texto.

Quanto ao filme de que a música é a trilha sonora, "Doces Poderes", sua trama é uma espécie de romance histórico daquele episódio da política nacional que muitos conhecem quando o jonral da Globo apresentou uma edição e uma interpretação que favoreceu o Collor no último debate dos presidenciáveis em detrimento do seu então oponente Lula.

A história, contudo, mostrou que uma vitória a qualquer custo as vezes é pior do que uma derrota momentânea porque esta pode, inclusive, se transformar numa vitória mais tarde. Quantos de nós já não passaram por experiências semelhantes na vida?

E a narrativa da minha existência se cruza com a história política do meu país e com a história desta cidade sem esquinas, não só por esta lição que a história ensina. Mas, também no que diz respeito à esta música e aos diferentes momentos em que ela se insere na minha vida com diferentes significados em diferentes períodos representando, assim, uma espécie de trilha sonora deste devir que, no fundo, também é um filme para um público restrito.

Onde as ruas não tem nome

Where the streets have no name

O que Marisa Monte, Roberto Carlos e o U2 têm em comum? Uma música que fala de um lugar imaginário onde se pode "encontrar a natureza, a alegria e felicidade com certeza".

Isto, claro, nos versos da música "Além do Horizonte" do Rei. Na voz da rainha da MPB, este lugar imaginário para o qual se vai para "acalmar o coração" onde o "mundo tem razão" e onde tem um "verdadeiro amor para quando você for" se chama Vilarejo.

Mas, antes mesmo conhecer estes paraísos imaginários, ideiais ou utópicos da MPB, eu conheci um descrito pela banda U2 numa canção que me acompanhou numa das primeiras mudanças de cidade que fiz na minha vida e que agora volta a estar presente nesta nova e significativa mudança para Brasília. Trata-se da música "Where the streets have no name" (onde as ruas não tem nome).

Segundo um amigo que me apresentou à esta música, ela fala de um lugar imaginário onde as ruas não tem nome de pessoas porque a igualdade foi, enfim, estabelecida. Uma espécie de referência ao paraíso cristão onde não haverá mais sofrimento e toda lágrima será enchugada.

Um lugar onde se poderá tocar a chama (touch the flame), ou seja, a origem de toda a vida que estará no centro desta cidade que fica além das planícies desérticas (High on a desert plain). Uma cidade onde as pessoas sentem o calor da presença de Deus e estão, juntos, queimando em amor (burning down love).

Esta é a cidade imaginária onde as ruas não tem nome. E é deste lugar que eu me lembro quando ando pelas ruas sem nome de Brasília e também do lugar onde vou morar. Sobretudo, porque lá - diferentemente de outras capitais - as crianças ainda brincam na rua, sozinhas e tranquilas dando uma "saudade que eu sinto de tudo o que ainda não vi" e me fazendo lembrar que este é um sonho que muitos outros também possuem.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Em fevereiro é que eu vou voltar

Só em fevereiro é que eu vou voltar

A música mais famosa do Natiruts, aquela que deu visibilidade e fama nacional ao grupo depois dele desaparecer e que fala da "beleza do Planalto central" e do "céu de nuvens doidas da capital do meu país", fala também que no final do ano o personagem viaja para ver o mar e que "só no final de fevereiro é que eu vou voltar".

"Fim de ano vou embora de Brasília
que é pra eu ver o mar
Mas diz pra mãe lá pro final de fevereiro
é que eu vou voltar
Que é pra surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz"

E ao que parece este negócio de viajar no final do ano é uma "paixão popular" na cidade, pois em janeiro tudo fica vazio. O lado bom é que existem lugares pra estacionar - raridade por aqui. O lado ruim é que até os barzinhos ficam vazios.

Parece que a cidade está de férias. Quase nenhuma peça de teatro, nenhum show decente e até mesmo os barzinhos estão vazios. Na última semana do mês, porém, quase não havia lugar para almoçar na praça de alimentação do shopping. Um sinal de que eles estão voltando?...

A primeira tesourinha

A primeira tesourinha a gente nunca esquece

Depois de uma semana andando de ônibus, meu carro chegou à cidade. E juntamente com ele a missão de aprender a andar na W3, L4, Eixão, entrequadras, superquadras e, como não poderia deixar de ser: nas famosas tesourinhas.

As tesourinhas, ao que parece, são uma marca registrada da cidade de Brasília, ou seja, algo muito comum aqui e quase inexistente no resto do país.

Tratam-se, na verdade, de uma espécie de trevo no qual você tem que entrar três vezes para conseguir pegar o sentido contrário ao que você estava... Claro, não é muito prático e me faz lembrar da indignação de uma amiga ao criticar este modelo brasiliense sendo que o mais fácil seria simplesmente fazer um contorno (tipo barberagem) para passar para o outro lado da pista!

Com a tesourinha, no entanto, o arquiteto acabou impedindo as barberagens e gambiarras no trânsito. Ao menos no trânsito...

Em suma: burocrático, mas curioso. Enquanto fazia minha primeira tesourinha, comecei a meditar que ela reflete parte dos caminhos da vida, pois as vezes damos muitas voltas até encontrar nosso destino. Na primeira volta, a impaciência; na segunda, a esperança; e na terceira, finalmente, a certeza de que chegaremos!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A título de título

Bazar do Valdomiro em Brasília é o soberano

"Bazar do Valdomiro", diz a lenda, era uma antiga loja de discos de Goiânia que ao que parece patrocinava os show da dupla "Tião Carreiro e Pardinho" ou promovia a venda dos seus discos.

Enfim, independemente, de qual seja a natureza da relação entre a loja de discos e a famosa dupla caipira, o fato é que esta loja foi digamos "imortalizada" na canção Pagode em Brasília que ainda hoje faz sucesso na voz de outras duplas e cantores ou da dupla original.

Daí então, o endereço deste blog (bazardovaldomiro). E o que isto tem a ver comigo? Uai, tem que até poucos dias atrás, quando me preparava para me transferir pra cá, esta era minha música tema ou, para ser mais específico, os versos que dizem:

"O bazar do Valdomiro em Brasília é o soberano
No repique da viola balancei o chão goiano
Vou fazer a retirada e despedir dos paulistano
Adeus que eu já vou me embora que Goiás tá me chamando."