quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ele era Fátima!

Ela talvez tivesse um nome: ele era Fátima


Neste mês, em algumas cidades brasileiras ocorreram manifestações ligadas ao "Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes".

Parece mais um marcha com fundo político como todas as outras. Mas, o combate está baseado em números expressivos como por exemplo:
- a 15 segundas uma criança é abusada sexualmente no Brasil;
- 93 cidades do Estado de São Paulo possuem focos de exploração sexual infantil;
- 80% dos casos de abuso sexual acontecem dentro da própria família.

Como decorrência desta política pública de combate ao abuso sexual infantil, apenas em janeiro deste ano foram contabilizados mais de quatro mil denúncias! Impressionante, não?...

E o tema encontra-se também relacionado à história cultural de Brasília, pois apesar de não ter dados atuais sobre o problema na cidade, sua existência já foi levantada na década de oitenta pelo grupo Aborto Elétrico de onde surgiriam dois dos grupos de rock mais famosos da época: Capital Inicial e Legião Urbana.

A música que descreve um episódio de exploração sexual infantil que é muito conhecida e foi gravada no famoso disco Acústico do Capital Inicial chama-se Fátima.

A primeira estrofe da música fala de um grupo de pessoas cujas iniquidades estão com os dias contas. Quem são essas pessoas? Não se sabe ao certo. A única referência é que são pessoas que
"se perdem no meio de tanto medo de não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender".

Ou seja, tratam-se de pessoas ambiciosas. A princípio, pessoas que viveriam da exploração sexual talvez? A segunda estrofe esclarece que não ao revelar que estas pessoas são aquelas que na verdade tem o poder neste mundo:

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de neutrons não foi Deus quem fez
Alguém, alguém um dia vai se vingar

Vocês são vermes, pensam que são reis

Não quero ser como vocês, eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber e
agora tanto faz

E a terceira e última estrofe então finalmente narra muito genericamente do episódio que até agora não sabemos se encontra fundamento num evento pontual e verídico da cidade quando, na primeira frase fala de "três crianças sem dinheiro e sem moral".

Mas, independemente da letra se basear numa história verídica ou não, o fato é que o tema é verossímil e permanece atual infelizmente nos dias atuais como bem mostrou a marcha contra a pedofilia e sua movimentação social relativa ao assunto.








quarta-feira, 19 de maio de 2010

Exército nas ruas

...e nada nos jornais

Saí de casa para trabalhar e nisso passou por mim um exército militar em alta velocidade. Entrei na L4 e tinha um veículo leve de ataque. Passei pelo Eixo Monumental e tinha um grupo de soldados armados e um tanque de guerra em frente à Catedral.


Chegando no trabalho, acessei os principais jornais da cidade para entender o que estava acontecendo na cidade e nenhum deles fazia referência a isto que lembrava o golpe de 64.


Foi então que descobri que os presidentes da Rússia, China e Índia estavam na cidade. Uma semana cheia de bloqueios de ruas para passar as comitivas.

Numa noite, ao voltar pra casa, peguei o caminho errado e passei acidentalmente pelo Eixo Monumental. Os presidentes estavam reunidos no Itamarati. Resultado: bloqueio da avenida para a comitiva inteira sair, motoqueiros da presidência fechando os cruzamentos e esquadrão anti-bomba a postos. Até parece seriado do episódio 24 horas!

Niemayer at night

Compreendendo Niemayer

As construções de Niemayer são bastante modernos, ou seja, "slim", bonitos de olhar e poucos práticos. O recente prédio do museu da república, em Brasília, por exemplo: quem anda do lado de fora em plena luz do dia? Só mesmo turistas...



Mas, claro que mesmo à luz do dia - e em combinação com o céu de Brasília (elemento integrante da arquitetura da cidade) - o lugar rende boas fotos conforme ilustrado abaixo:


Mas, foi numa festa ocorrida mês passado que compreendi o carácter eminentemente público desta construção - e, consequentemente, de outras também.

Utilizando a parede externa do prédio para projetar imagens, a festa pública (free) foi animada ao som de música eletrônica que anteceu a chegada do famoso DJ Moby.

Além da projeção na parede do edifício do Niemayer, a festa também contou com um balão e muita - muita - gente que lotou o lugar que à noite mostrou a importância dos grandes espaços abertos: a de reunir todo mundo nesta que, diga-se de passagem, foi a melhor festa pública que já vi.







Os discos de Niemayer

A nave espacial de Niemayer

Dizem que Niemayer está revisitando suas obras - o que também pode ser entendido como reciclagem de projetos anteriores.

Esta particularidade ajuda, inclusive, a entender o edifício do chamado "Museu da República" cujo nome deve causar revolta em qualquer museológo que se prese porque seu acervo frusta qualquer um que se achega para conhecer a história da República.

Mas, enfim, isto já não é problema do Niemayer cuja responsabilidade é apenas o de entregar o prédio - ilustrado a seguir:


O edifício, como se vê, é uma retomada do mesmo projeto da câmera dos deputados que se pode ver ao fim da Esplanada dos Ministérios, ou seja, o que se pode ver quando se está neste mirante lateral do prédio do museu - como se estivesse dizendo ao espectador: "eu vim de lá", ou "viemos da mesma nave mãe Niemayer"...


Além disso, quem já foi à Oca do Ibirapuera, sabe que o desenho é o mesmo - com um ou outro detalhe diferente.




Curioso ainda notar que o prédio da sede do partido comunista francês, projeto também de Niemayer, também possui uma construção destas.



E uma olhada à distância nas construções da nova sede do Tribunal de Contas da União em Brasília mostra que outra oca (ou disco voador) vai surgir ali também.



Curioso é que, assim, Niemayer deixa suas pegadas em diferentes partes do país e do mundo através de obras que mais parecem discos voadores cujo conjunto parece indicar que todos fazem parte da mesma nave mãe (Niemayer) que felizmente continua entre nós.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Toda a plataforma


Estou só esperando o que vai acontecer

Quando mudei-me para Campinas, uma das coisas que estranhei e que inúmeras pessoas comentavam era sobre a precariedade e poluição presente em sua rodoviária. Os ônibus
estavam num subsolo de teto baixo que em combinação com a fumaça que saía dos escapamentos dos ônibus gerava um ambiente sufocante. Além disso, a parte de cima onde os passageiros compravam suas passagens e aguardavam para embarcar era desprovida de qualquer beleza.

Para uma cidade grande como Campinas, uma grande capital regional, a maior cidade entre todas do interior, este fato era uma vergonha.

Brasília, por sua vez, não encontra-se em situação diferente. Sua rodoviária, também conhecida como rodoferroviária (porque por ali passam trens de carga) também tem uma estética que está longe de qualquer padrão de beleza arquitetônico contemporâneo, moderno e mesmo barroco.

Hoje, no entanto, Campinas já conta com uma nova rodoviária - digamos que à altura da importância da cidade.
















Brasília, ao que parece, caminhava pra isto. Alí mesmo nas proximidades da atual rodoviária, se pode ver o design moderno da cobertura do que viria a ser a nova rodiviária. Digo que viria a ser porque, com a recente crise de governo que aconteceu no DF, estas e outras obras mais simples estão todas atrasadas.










No entanto, não foi nem a rodoviária de Campinas nem a de Brasília que entrou pra história. Mas, sim o terminal rodoviário interno da cidade - a conhecida "plataforma", que fica na esplanada dos ministérios, ou seja, bem no centro do avião que delinea a planta da cidade.
















É a este lugar que a "Música Urbana" do grupo Capital Inicial faz referência quando diz que:

"As ruas tem cheiro de ggasolina e óleo diesel, toda a plataforma, toda a plataforma por toda a plataforma, voce não vê a torre"

A plataforma aqui, como se disse, é este terminal rodoviário construído quase que embaixo do pontilhão que liga o Eixão que corta a cidade de fora a fora ou, para ser mais específico, de um ponto à outro das asas. E a Torre, mencionada na música, é a Torre da TV de onde se pode ter uma ampla visão panorâmica da Esplanada dos Ministérios.

Pense num lugar abafado, cheio de uma multidão de pessoas que alí chegam vindo de todos os cantos da cidade, das cidades satélites e antes também de todos os estados. O urbanismo da cidade de Brasília favorece a visão de um amplo horizonte iluminado. Porém, o teto da plataforma impede de se ver até a torre.

Um amigo músico diz que não consegue compreender o segredo do sucesso de algumas músicas populares. Afinal de contas, como todas as outras, elas são formadas de uma combinação de acordes, etc. etc. Eu particularmente acho que o sucesso desta música é devido em parte à interpretação que se faz dela, pois o vocalista do Capital Inicial a canta como se "acreditasse piamente" na sua mensagem.

Mas, qual sua mensagem? Afinal de contas, ela fala de uma situação corriqueira do cotidiano: alguém que sofre com a espera do ônibus num terminal rodoviário poluído. Ou será que há algo de mais profundo?

Talvez não. Possivelmente ela faz sucesso devido aos seus acordes e ao tom empolgante que expressa um sentimento de véspera de festa - como diria a letra "estou só esperando o que vai acontecer".


A música também usa expressões como "tudo errado, mas tudo bem":

"Tudo errado, mas tudo bem
Tudo quase sempre
Como eu sempre quis
Sai da minha frente
Que agora eu quero ver..."

Quero ver o quê? De repente somos surpreendidos pelo fato de que o lugar de chegada de ônibus é também um lugar de festa - ou quase isto, uma vez que a plataforma dá acesso ao local da esplanada onde acontece os shows e as festas populares. E assim se explica então este tom de véspera de festa.















De qualquer maneira, vejam só que coisa maluca: o cara faz uma música simples sobre alguém que sofre com a poluição urbana num terminal rodoviário e isso se torna sucesso nacional que todos conhecem e sabem cantar há mais de vinte anos! Viva o rock nacional!