sexta-feira, 7 de maio de 2010

Toda a plataforma


Estou só esperando o que vai acontecer

Quando mudei-me para Campinas, uma das coisas que estranhei e que inúmeras pessoas comentavam era sobre a precariedade e poluição presente em sua rodoviária. Os ônibus
estavam num subsolo de teto baixo que em combinação com a fumaça que saía dos escapamentos dos ônibus gerava um ambiente sufocante. Além disso, a parte de cima onde os passageiros compravam suas passagens e aguardavam para embarcar era desprovida de qualquer beleza.

Para uma cidade grande como Campinas, uma grande capital regional, a maior cidade entre todas do interior, este fato era uma vergonha.

Brasília, por sua vez, não encontra-se em situação diferente. Sua rodoviária, também conhecida como rodoferroviária (porque por ali passam trens de carga) também tem uma estética que está longe de qualquer padrão de beleza arquitetônico contemporâneo, moderno e mesmo barroco.

Hoje, no entanto, Campinas já conta com uma nova rodoviária - digamos que à altura da importância da cidade.
















Brasília, ao que parece, caminhava pra isto. Alí mesmo nas proximidades da atual rodoviária, se pode ver o design moderno da cobertura do que viria a ser a nova rodiviária. Digo que viria a ser porque, com a recente crise de governo que aconteceu no DF, estas e outras obras mais simples estão todas atrasadas.










No entanto, não foi nem a rodoviária de Campinas nem a de Brasília que entrou pra história. Mas, sim o terminal rodoviário interno da cidade - a conhecida "plataforma", que fica na esplanada dos ministérios, ou seja, bem no centro do avião que delinea a planta da cidade.
















É a este lugar que a "Música Urbana" do grupo Capital Inicial faz referência quando diz que:

"As ruas tem cheiro de ggasolina e óleo diesel, toda a plataforma, toda a plataforma por toda a plataforma, voce não vê a torre"

A plataforma aqui, como se disse, é este terminal rodoviário construído quase que embaixo do pontilhão que liga o Eixão que corta a cidade de fora a fora ou, para ser mais específico, de um ponto à outro das asas. E a Torre, mencionada na música, é a Torre da TV de onde se pode ter uma ampla visão panorâmica da Esplanada dos Ministérios.

Pense num lugar abafado, cheio de uma multidão de pessoas que alí chegam vindo de todos os cantos da cidade, das cidades satélites e antes também de todos os estados. O urbanismo da cidade de Brasília favorece a visão de um amplo horizonte iluminado. Porém, o teto da plataforma impede de se ver até a torre.

Um amigo músico diz que não consegue compreender o segredo do sucesso de algumas músicas populares. Afinal de contas, como todas as outras, elas são formadas de uma combinação de acordes, etc. etc. Eu particularmente acho que o sucesso desta música é devido em parte à interpretação que se faz dela, pois o vocalista do Capital Inicial a canta como se "acreditasse piamente" na sua mensagem.

Mas, qual sua mensagem? Afinal de contas, ela fala de uma situação corriqueira do cotidiano: alguém que sofre com a espera do ônibus num terminal rodoviário poluído. Ou será que há algo de mais profundo?

Talvez não. Possivelmente ela faz sucesso devido aos seus acordes e ao tom empolgante que expressa um sentimento de véspera de festa - como diria a letra "estou só esperando o que vai acontecer".


A música também usa expressões como "tudo errado, mas tudo bem":

"Tudo errado, mas tudo bem
Tudo quase sempre
Como eu sempre quis
Sai da minha frente
Que agora eu quero ver..."

Quero ver o quê? De repente somos surpreendidos pelo fato de que o lugar de chegada de ônibus é também um lugar de festa - ou quase isto, uma vez que a plataforma dá acesso ao local da esplanada onde acontece os shows e as festas populares. E assim se explica então este tom de véspera de festa.















De qualquer maneira, vejam só que coisa maluca: o cara faz uma música simples sobre alguém que sofre com a poluição urbana num terminal rodoviário e isso se torna sucesso nacional que todos conhecem e sabem cantar há mais de vinte anos! Viva o rock nacional!