quarta-feira, 7 de abril de 2010

Arquitetura relacional

Arquitetura das mãos e dos braços

Acho que de tanto meditar sobre as formas arquitetônicas, você acaba ficando também sensível para outras arquiteturas.

Hoje, por exemplo, no aeroporto de Brasília vi uma cena que, creioi, me fez compreender a sabedoria existente na arquitetura humana e a maneira como isto se reflete no detalhe do tamanho dos braços das pessoas ao longo das fases da vida.

Explico. Você já reparou que se uma filha ou filho pequeno estiver de mãos dadas com a mãe e tropeçar no caminho, ela fica pendurada, mas não bate a cabeça no chão?...

Claro, de tão trivial a gente nem pensa nisso. Mas, se o ser humano tivesse, por exemplo, braços longos até o joelho ou curtos até à altura do peito, isto não seria possível. E a proteção natural e essencial para a criança nos primeiros anos de vida não se estabeleceria da maneira "natural" como a conhecemos.

No entanto, do jeito como este detalhe da nossa arquitetura foi pensada, o simples hábito de andar de mãos dadas não somente estabelece um vínculo simbólico e afetivo como também responde à uma questão prática e necessária de proteção a um ser ainda em formação e que, normalmente, não consegue se manter em pé sozinho.

Com o passar do tempo, o vínculo simbólico e afetivo das mãos dadas desta relação pode se manter. Mas, a proteção física não se faz mais necessária. E a arquitetura vai se alterando de modo a inviabilizar a antiga relação sugerindo ao mesmo tempo que a mãe ou pai não precisam mais sustentar o filho em suas quedas.

O que também tem sua sabedoria, uma vez que a criança - a medida que cresce - precisa aprender a cair e a se levantar sozinho para um dia, quem sabe, ensinar estes primeiros passos a outro ser ou, ao menos (e isto não é pouco), lembrar inconscientemente outro adulto do significado simbólico deste gesto simples que um dia significou muito mais que proteção.