"Porque nada dura para sempre, nem mesmo a chuva de novembro"
Há (havia) um ditado que diz que o Brasil só começa depois do carnaval. E se o ditado não serve mais para o Brasil, para Brasília ainda serve muito bem.
Depois do carnaval, a cidade começa finalmente! Já não encontra mais lugar para estacionar, os lugares nas mesas de bar ficam disputados, os pubs ficam superlotados ao extremo, câmera e senado retomam sua rotina de debates e comissões e a agenda cultural de repente fica repleta de eventos e shows! E, inclusive, de shows internacionais...
E quem apareceu por aqui este ano foi o Gun´s Roses. Ééééééé. Aquele que na década de noventa lançava dois discos de uma vez só (Use your ilusion) levando fãs norte-americanos a madrugarem em frente às lojas de discos para conseguir comprar o seu! Quão longe isto parece, não? Hoje em dia, todo mundo ficaria em casa conectado à internet esperando o primeiro bit-torrent entrar no ar...
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Mas, o Gun´s que veio à Brasília não foi propriamente o Gun´s Roses. Este, como se sabe, acabou junto com a década de noventa. Quem veio à Brasília foi Axel Rose "depois das drogas" e sua banda cover do Gun´s.
O show já aconteceu e eu não fui. Não sei se eles tocaram o sucesso da década de noventa, November Rain. Música, a propósito, muito apropriada para este início de ano quando Brasília está parecendo um Vietnã de tanta chuva.
Por conta da combinação desses dois eventos recentes, fui revistar o clipe da música November Rain no youtube e tive que dar o braço a torcer: continua legal. Tirando o melodrama sobre o qual entrarei em detalhes a seguir, a tomada aérea do Slash fazendo seu inesquecível sólo de guitarra em frente à uma igrejinha no meio do deserto é memorável.
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Antes, porém, de entrarmos na questão do melodrama, duas palavrinhas sobre a noiva do Axel. Repararam no modelito do vestido de noiva?... (rs) De véu e grinalda, símbolos tradicionais da pureza e da castidade, mas aberto frontalmente para mostrar as longas pernas torneadas com meia de seda preta?... Muito meio, não? E a lambida que ela dá na espátula depois de cortar o bolo de casamento?... É, não é a toa que o Axel desperta em prantos durante a noite chuvosa... É realmente muito triste uma perda dessas... (rs)
Agora, vamos ao fato mais curioso de todos! A historinha do clipe, como se sabe, gira em torno da cerimônia de casamento seguida de um funeral da jovem esposa que o protagonista perde e lamenta muito, etc. Muito bem... Sabe o leitor, no entanto, que há uma música caipira com história análoga?!... Sim...
A música chama-se "Sementinha" e também pode ser ouvida no youtube. Ok, o título não é dos melhores. Mas, enfim, esta música que foi gravada por Lourenço e Lourival e também por Liu e Léo conta a história de um caboclo - igual ao Axel - que teve um romance idílico com uma caboclinha "graciosa, bela e meiga" com quem sonhou ser feliz. Mas, uma semana antes do casamento a mocinha morre! Uh! Raios duplos!
Enfim, duas histórias de amor que não se realiza. No clip do Guns não fica muito claro se o casamento chega a se consumar porque logo após a festa de casamento que é interrompida pela chuva de novembro, a mulher já aparece num caixão. Mas, que nos importa isto! Ok, ok, estou sendo insensível com o pobre do Axel que desde então passou a usar drogas ou algo parecido...
Mas, enfim, o fato é que existe um paralelo interessante aqui entre o caboclo que mora na fazenda e o... como poderíamos chamar... enfim, o... o cara com dinheiro (digamos assim) que se casa com "A mulher" que logo em seguida morre na chuva de novembro. Prova talvez que dinheiro não é garantia de felicidade?... Quem sabe?...
Mas, se o nome "Sementinha" não sensibilizou o leitor, fique a vontade para dar outro nome. Afinal de contas, até os compositores fazem isto desde que mundo é mundo. Talvez, inclusive, a Sementinha poderia se chamar "Chuva de abril" já que a de março ficaria parecendo plágio com Tom Jobim. Se a história se desse em Brasília estaria super no contexto.
Mas, não ache que estou "viajando na maioneses". Afinal de contas, existe um trecho da Sementinha onde a chuva aparece também como elemento importante da trama:
A chuva se foi embora e o sol ardente
Matou a minha roseira e secou meu pranto
Só não matou a saudade da caboclinha
Pois eu veja sua imagem em todo canto