Estou só esperando o que vai acontecerQuando mudei-me para Campinas, uma das coisas que estranhei e que inúmeras pessoas comentavam era sobre a precariedade e poluição presente em sua rodoviária. Os ônibus
estavam num subsolo de teto baixo que em combinação com a fumaça que saía dos escapamentos dos ônibus gerava um ambiente sufocante. Além disso, a parte de cima onde os passageiros compravam suas passagens e aguardavam para embarcar era desprovida de qualquer beleza.
Para uma cidade grande como Campinas, uma grande capital regional, a maior cidade entre todas do interior, este fato era uma vergonha.
Brasília, por sua vez, não encontra-se em situação diferente. Sua rodoviária, também conhecida como rodoferroviária (porque por ali passam trens de carga) também tem uma estética que está longe de qualquer padrão de beleza arquitetônico contemporâneo, moderno e mesmo barroco.
Hoje, no entanto, Campinas já conta com uma nova rodoviária - digamos que à altura da importância da cidade.
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Brasília, ao que parece, caminhava pra isto. Alí mesmo nas proximidades da atual rodoviária, se pode ver o design moderno da cobertura do que viria a ser a nova rodiviária. Digo que viria a ser porque, com a recente crise de governo que aconteceu no DF, estas e outras obras mais simples estão todas atrasadas.
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No entanto, não foi nem a rodoviária de Campinas nem a de Brasília que entrou pra história. Mas, sim o terminal rodoviário interno da cidade - a conhecida "plataforma", que fica na esplanada dos ministérios, ou seja, bem no centro do avião que delinea a planta da cidade.
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É a este lugar que a "Música Urbana" do grupo Capital Inicial faz referência quando diz que:
"As ruas tem cheiro de ggasolina e óleo diesel, toda a plataforma, toda a plataforma por toda a plataforma, voce não vê a torre"A plataforma aqui, como se disse, é este terminal rodoviário construído quase que embaixo do pontilhão que liga o Eixão que corta a cidade de fora a fora ou, para ser mais específico, de um ponto à outro das asas. E a Torre, mencionada na música, é a Torre da TV de onde se pode ter uma ampla visão panorâmica da Esplanada dos Ministérios.
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Pense num lugar abafado, cheio de uma multidão de pessoas que alí chegam vindo de todos os cantos da cidade, das cidades satélites e antes também de todos os estados. O urbanismo da cidade de Brasília favorece a visão de um amplo horizonte iluminado. Porém, o teto da plataforma impede de se ver até a torre.
Um amigo músico diz que não consegue compreender o segredo do sucesso de algumas músicas populares. Afinal de contas, como todas as outras, elas são formadas de uma combinação de acordes, etc. etc. Eu particularmente acho que o sucesso desta música é devido em parte à interpretação que se faz dela, pois o vocalista do Capital Inicial a canta como se "acreditasse piamente" na sua mensagem.
Mas, qual sua mensagem? Afinal de contas, ela fala de uma situação corriqueira do cotidiano: alguém que sofre com a espera do ônibus num terminal rodoviário poluído. Ou será que há algo de mais profundo?
Talvez não. Possivelmente ela faz sucesso devido aos seus acordes e ao tom empolgante que expressa um sentimento de véspera de festa - como diria a letra "estou só esperando o que vai acontecer".
A música também usa expressões como "tudo errado, mas tudo bem":
"Tudo errado, mas tudo bem Tudo quase sempre Como eu sempre quis Sai da minha frente Que agora eu quero ver..."Quero ver o quê? De repente somos surpreendidos pelo fato de que o lugar de chegada de ônibus é também um lugar de festa - ou quase isto, uma vez que a plataforma dá acesso ao local da esplanada onde acontece os shows e as festas populares. E assim se explica então este tom de véspera de festa.
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De qualquer maneira, vejam só que coisa maluca: o cara faz uma música simples sobre alguém que sofre com a poluição urbana num terminal rodoviário e isso se torna sucesso nacional que todos conhecem e sabem cantar há mais de vinte anos! Viva o rock nacional!