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Walter Benjamin dizia que "a obra de arte na era da sua reprotutibilidade técnica" tem sua áurea atrofiada.
Mas o que é aura? Responde o autor: "é uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja”.
Trocando em miúdos: é a capacidade que determinadas coisas têm - em particular as obras de arte - de transportar aquele que a "observa" para uma esfera transcendente.
Nos "tempos modernos", segundo Benjamin, isto se perde. Talvez porque a coisa esteja alí em forma de reprodução diante do espectador.
No entanto, o atrofiamento não quer dizer a falência completa de um membro ou órgão. Assim, de vez em quando é possível ser transportado para esta outra esfera transcendente - ao ouvir, por acaso, a reprodução de uma velha música dos "Demônios da garoa" tocada no rádio do vizinho num feriado de carnaval - cuja letra diz:
"Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros"
Sempre gostei desta última parte. Assim como na experiência da aura, citada por Walter Benjamin, ela se apresenta como algo distante (a alegria de milhões de corações brasileiros) por mais perto que esteja.
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