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Um interlúdio no processo de adaptação em Brasília. Depois de duas semanas na cidade do traço de Niemayer e Lucio Costa, fui passar uma semana na antiga capital da república.
No Rio de Janeiro, ao contrário de Brasília, a cidade parece não entrar de férias em janeiro. Ao menos, não a programação de teatro já que consegui assistir a duas excelentes peças: uma sobre a vida do famoso escritor russo Tchekov e o clássico shakeaspeariano Macbeth.
As duas peças tem em comum referências ao próprio teatro enquanto arte fundamental para a vida. Macbeth, porém, traz um dilema que todo político de Brasília (aliás, todo político em geral) deve enfrentar em algum momento da carreira: a renúncia da lealdade e da integridade moral como preço a ser pago no processo de ascenção ao poder.
Daniel Dantas estava muito bem no papel de Macbeth. Particularmente na segunda parte da peça e trazia no seu visual uma extensa barba que lembrava o Lula sindicalista.
Seria este pequeno detalhe uma sugestão crítica ao homem que a população brasileira atualmente considera como a pessoa mais confiável no país, cujo governo tem mais de 80% de aprovação e que recentemente recebeu o prêmio de estadista global do Fórum Econômico mundial, mas que no início de seu mandato teve que lidar com as denúncias do mensalão que nunca ficou comprovado por razões que todos conhecemos?
Nas barbas do personagem etaria então a sugestão de conteporaneidade deste clássico cujas eleições presidenciais, a cada quatro anos, seria sua cartáse?
Lula resistiria enfim a confrontação do mito de Macbeth? E nós, meros mortais vivendo a política do cotidiano, resistíriamos a este julgamento moral? E talvez seja este o aspecto que faz da peça de Shakespeare um clássico sempre atual: ela não fala apenas do político, mas de todos nós.
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