sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nas entrelinhas do moderno

Modernidade conservadora

Um dia eu quis fazer arquitetura. Um amigo então me disse um dos lugares legais para fazer esta graduação seria Brasília. Não propriamente pela qualidade do curso - que, imagino, deve ser bom -, mas, por causa de como a arquitetura está presente na cidade.

Claro que ele me disse isso só depois de fazer aquela piadinha segundo a qual "arquiteto é aquele cara que não foi macho o suficiente para fazer engenharia, nem gay o suficiente para fazer decoração"... :)

Mas, de um jeito ou de outro, o fato é que experimentos e designers arquitetônicos estão realmente entranhados nesta cidade que, diga-se de passagem, teve sua cesariana feita por um arquiteto. Tudo, então, parece derivar destes ideiais primeiros que se traduzem em normas urbanísticas e influências para as novas construções.

Porém, em meio às diretivas arquitetônicas há dissonânicas que fariam qualquer Lucio Costa revirar no caixão. Um exemplo bem claro disso são as barraquinhas de lanche, improvisadas e cobertas de lona azul (no melhor estilo acampamento sem-terra) que existem no setor de Autarquias. Uma delas, inclusive, logo abaixo de um edifício desenhado por Oscar Niemayer.

Aliás, se Lucio Costa revira no túmulo o que será que Niemayer sente ao ver isto? Se é que ele vê, claro. Talvez, do auge dos seus cem anos, ele compreenda que isto faz parte da própria característica social de um país que convive cotidianamente com o moderno e com o arcaico; com o desejo de grandeza simbolizado pelos belos edifícios ao lado de necessidades básicas cuja satisfação não é prevista pelos projetos de modernização do país.

E assim vamos passando os dias, trabalhando por um futuro melhor em ambientes idealizados. Mas, fugindo frequentemente para nos alimentar num universo arcaico e dissonante, porém, imprescindível à vida já que o moderno não satisfaz algumas necessidades básicas.

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