Há algo que sinto quando olho para o oeste
Precisamente hoje termina minha saga no Oeste. Ou seria west? Explico: Brasília tem umas avenidas que a cortam de ponta-a-ponta ou, para ser mais específico, de asa-a-asa. São elas que ligam à Asa Sul à Asa Norte permitindo, por exemplo, que você vá de um extremo a outro da cidade em menos de meia-hora. Legal, não?
Pois é, e uma dessas grandes avenidas chama-se W3. Porque W? Oras, W de
west! Afinal de contas não estamos no Brasil onde grande parte da população tem o inglês como segundo idioma? Então... (rs)
Durante dois meses, andei por esta avenida diariamente para ir e voltar do trabalho. Hoje, porém, mudo-me para o apartamento que aluguei. E o caminho para lá não passa mais pela W3.
Mas, claro que sempre que passar por ela me lembrarei desses primeiros dias nesta nova e estranha cidade. E, quem sabe, como diz a letra da música Stairway to heaven - ainda muito presente na minha memória devido ao recente show do Led Zeppelin cover - poderei dizer que
"há algo que sinto quando olho para o oeste":
"There's a feeling I get when I look to the west And my spirit is crying for leaving"
Não vou dizer que passei a vida toda ouvindo esta música. Foram raras as vezes. Mas, ultimamente comecei a prestar atenção à letra procurando compreender o que ela dizia. A princípio não entendi nada e acabei descobrindo que as pessoas ao meu redor também não tinham a menor noção.
Hoje, talvez em comemoração ao fim desta primeira fase no oeste, me detive mais uma vez na sua letra e finalmente cheguei à uma primeira compreensão.
Em primeiro lugar, vamos contextualizá-la: ela foi produzida na década de setenta no auge do movimento hippie que, como se sabe, se opunha aos valores de uma sociedade capitalista, materialista e voltada para o consumo às custas da perda de coisas essenciais para a vida como a contemplação da natureza, a paz, a harmonia e amor.
Muito bem. Isto ajuda, portanto, a entender os dois principais personagens da narrativa presentes na letra da música:
- "uma senhora que acredita que tudo o que brilha é ouro" e que pensa estar comprando uma escadaria para o céu;
- e um flautista que deseja nos levar à razão e chama para um outro caminho, para um lugar feliz junto à natureza onde todos estaremos firmes como uma rocha e seremos um só com todos.
Convenhamos: nada mais hippie que um flautista na floresta, tocando em meio de pessoas dando gargalhadas. Mas, não me pergunte às custas do quê... (rs)
Se o leitor conhece a música do "Além do horizonte" do Roberto Carlos, regravada poucos anos atrás pelo Jota Quest verá que a proposta do flautista e da música do Rei muito se assemelham:
"Além do horizonte deve ter
algum lugar bonito pra viver em pazOnde eu possa encontrar a natureza,
alegria e felicidade com certeza (...)Lá nesse lugar o amanhecer é lindo,Com flores festejando mais um dia que vem vindoOnde a gente pode se deitar no campoSe amar na relva escutando o canto dos pássaros"Dentro então desta proposta alternativa, a letra da música se desenvolve em torno desses dois personagens e apresentando as boas novas ("good news") como diz o cantor Robert Plaint antes de dar início à estrofe que se há dois caminhos a seguir (o da senhora e do flautista), na longa estrada desta vida felizmente temos a possibilidade de mudar de caminho e ir juntar-se ao flautista.
Taí então minha interpretação, que remete ao
west, a W3, ao stairway to heaven tocada ao vivo na última sexta, à escada do Teatro Nacional, a um interlúdio no Rio, ao prato de lentilhas, às boas novas e finalmente a uma mudança de caminho.