sexta-feira, 12 de março de 2010

Win Wenders na L4

Arquitetura de reflexão

Numa interessante e sensível reflexão sobre o cinema americano atual, o cineasta alemão Win Wenders chama a atenção para a velocidade sempre acelerada da ação e que ao contrário dos filmes do velho oeste, por exemplo, não há mais aqueles momentos em que a câmera fazia uma panorâmica sobre a paisagem sugerindo um momento em que o espectador tinha a oportunidade de projetar sua história dentro da história que está sendo contada.

Bom, mas se isto não está mais presente no cinema americano, está presente em algumas avenidas de Brasília que cortam a cidade fora a fora. Sem semáforo e com um limite de velocidade de 80 km/h, elas parecem reforçar a idéia de que só existe um ponto de origem e um de destino e, entre eles, nada. O oposto, por exempo da máxima de "Grande Sertão Verdes": de que a beleza não está na chegada nem na partida, mas no próprio caminhar.

Há semanas que me pergunto que reflexo isto traz para a psicologia de quem vive aqui. Será que isto reforça a objetividade ou, quem sabe, a reflexão? Uma amiga que não tem carro e faz estes caminhos de ônibus, afirma que isto simplesmente gera o tédio!... (rs)

De fato, uma coisa é seguir por estas highways preocupado apenas com os radares de velocidade, sozinho consigo mesmo e seus pensamentos num carro de cinco lugares ouvindo suas músicas preferidas ou simplesmente o silêncio. Outra é seguir num coletivo que sempre anda mais devagar do que a vontade de chegar, e com nada para se olhar no horizonte além de um grande descampado ou construções semi-abandonadas ou simplesmente iguais e distantes.

Talvez, assim como no cinema, seja preciso uma situação confortável para este exercício de projeção da nossa própria história dentro da história da cidade. Uma cidade que, diga-se de passagem, um dia já esteve perdida no nada - como também as vezes nos costuma ocorrer em alguns momentos da vida.

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