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No entanto, no que diz respeito à montagem da peça pela companhia britânica que visitou Brasília, o dramaturgo já dizia em nota do catálogo que se tratava de uma adaptação. Ou até mesmo, acrescento eu, do que poderíamos chamar de uma "livre adaptação" - dada a distância entre a obra originária e a peça.
Poderíamos até dizier que o enredo da peça de teatro assemelha-se ao conto "Diário de um louco" de Gógol pela presença de alguns elementos próprios da trama daquele outro conto. Mas, isso seria um exagero de generosidade.
Do Capote mesmo de Gógol, ficou só a figura de um pobre empregado de uma repartição pública tomado pela burocracia e pelas condições precárias de sua existência e, claro, o capote (sobretudo) que dá nome ao conto.
O romance, ou melhor, a trama amorosa de tom romântico presente no roteiro da peça, por exemplo, inexiste no texto original assim como a concorrência interna no emprego em busca de uma promoção cujo prêmio seria o Capote.
Portanto, a despeito da originalidade da estrutura da peça, ainda vale mais a pena ir à obra original e compreender a essência do que diferenciou a literatura russa da francesa e fez dela o que ela é ou foi: a melhor do mundo!