terça-feira, 16 de março de 2010

Deborah Colker

4 por 4

No final de semana que antecedeu o dia internacional das mulheres, Brasília recebeu a companhia de dança Deborah Colker para apresentação do espetáculo "4 por 4" no Teatro Nacional. Sim, aquele em forma de Pirâmide.



















O significado do título do espetáculo, 4 por 4, é sugerido logo no primeiro quadro quando poucos bailarinos dançam em tablados individuas de 4 por 4 metros, fechados por duas paredes que se unem como se formassem altos biombos - o que, a propósito, poderia ser lido como uma representação dos apartamentos típicos de Brasília com seus 28 metros quadrados. Para se ter uma noção do quanto um desses apartamentos típicos de Brasília são apertados, só mesmo entrando num depois de saber o astronômico valor dos aluguéis. Mas, o que é pequeno para um só, as vezes pode ter o tamanho ideal para um jovem casal enamorado que está começando uma vida a dois na cidade...

Foi, inclusive, o que aconteceu com o casal de amigos que conheci há pouco tempo. Mas, claro queesta vida apertada foi só no primeiro ano. Hoje, eles preferem morar um pouco mais longe da região central, mas com um pouco mais de espaço. Afinal de contas, já estão indo para o terceiro ou quarto ano de casamento se não me engano... (rs)

E é justamente desta vida a dois num cubículo, isto é, nos apartamentos típicos das grandes cidades que o primeiro quadro do espetáculo em questão parece tratar. Uma realidade que solitária no início, logo se completa com a presença de outro dançarino que vem a formar um par e a compor uma coreografia de impressionante beleza estética e performática.















E é incrível o que a dupla de bailarinos consegue então fazer juntos num espaço tão pequeno e rústico como se estivessem a sugerir as possibilidades de beleza que podem ser criadas e desenvolvidas mesmo nas condições mais apertadas de habitação.

E como disse antes: a coreografia impressiona não só pela beleza estética como, também, pela performace - qualidades, aliás, sempre presentes no trabalho de Deborah Colker.

Algumas partes em que os bailarinos literalmente sobem pelas paredes ou arrastam seus pares para alí, ora elevando-os, ora despencando sobre eles reforçam esta característica performática pela qual a companhia é conhecida.

Dizem, inclusive, que ao final de cada temporada da companhia, os bailarinos estão fisicamente acadabados, com os "joelhos estourados" devido ao limite ao qual são levados nas coreografias. Verdade ou mito, o fato é que os bailarinos desta companhia realmente demonstram um preparo físico fora do comum.

Uma amiga da área de dança discorda desta perspectiva. Discorda, portanto, que a dança tenha que ser assim tão performática. Mas, talvez esta seja uma característica que esta companhia herde do nosso tempo em que não basta mais "dançar conforme a música"; para se destacar é preciso se matar de trabalhar, dar o máximo, dar tudo, chegar ao esgotamento e superar os próprios limites para, enfim, receber os aplausos e os adjetivos de genial e surpreendente!