quinta-feira, 11 de março de 2010

Pagode em Brasília

Retorno às raízes














A música que, por assim dizer, deu origem a este blog e nome ao seu endereço na internet será em breve cantada para um grande público em Brasília por conta do iminente show de Victor e Léo na cidade.

Se eu vou ou não a este show, ou seja, se eu vou ou não fazer esta incursão antropológica, esta é uma questão que talvez retorne como tema deste blog em breve. Até lá, vamos ao fato que originou esta postagem: a descoberta da rádio justiça, FM 104.7

Comecei a ouvir esta rádio depois que descobri que ela estava transmitindo ao vivo a sessão do Supremo Tribunal Federal onde estava em julgamento a permanência ou não da prisão do governador Arruda.

Dias atrás, nesta mesma rádio, ouvi o ministro falando sobre um programa de informatização do sistema penal do Brasil com o objetivo de evitar desencontro de informações e consequentemente a existência de injustiças nesta esfera.

Neste mesmo discurso que correspondia a uma espécie de convocação para que todos os envolvidos participem colaborativamente deste processo, o ministro reconhecia que há no Brasil muita gente presa que não deveria estar na prisão - sobretudo devido ao fato de suas penas já terem acabado.

Parece incrível, não? Será que nem mesmo o preso faz controle de sua pena? Ninguém da família dele o faz? Será que os anos na cadeia fazem a pessoa perder a noção do tempo? Ou será simplesmente que a burocracia da justiça impede que a pessoa receba o que lhe é de direito no tempo estabelecido como, por exemplo, acontece com muitas pessoas que não coseguem se aposentar mesmo depois de ter passado da idade para isso exigida?

A questão não é pequena. Basta lembrar que logo aós o massacre no Carandiru descobriu-se que muitos presos, que foram fuzilados pelo batalhão de choque da polícia, já estavam com sua pena vencida e eram muito jovens e, pelo crime cometido, nem deveriam estar alí.

Alguns acham que o país não perdeu grande coisa com essas mortes. Mas, isto talvez decorra da descrença na redenção da vida humana que certamente deve refletir a inexistência de programas de recuperação do presidiário brasileiro - outra justificativa deste programa, presente no discurso do ministro.

Independentemente de qual seja a razão, este projeto já é uma boa notícia e mostra o importante papel da informática enquanto instrumento para promoção ou operacionalização da justiça no país. Quem diria!

E o que isto tem a ver com o show do Victor e Leo em Brasilia e com a música "Pagode em Brasília", da dupla Tião Carreiro e Pardinho, que eles interpretam com um novo arranjo musical? Tem que o segundo verso desta música, composta na década de sessenta, fala exatametne deste fato de que existem prisioneiros inocentes no fundo de uma prisão.

Tem prisioneiro inocente no fundo de uma prisão
Tem muita sogra encrenqueira

E tem violeiro embrulhão
Pro prisioneiro inocente eu arranjo advogado
E a sogra encrenqueira eu dou de laço dobrado

Pro violeiro embrulhão os meus versos tão quebrados



Curioso que isto esteja presente justamente numa música chamada "Pagode em Brasilia". Será que o ministrou ou o idealizador deste projeto a ouviu, ao ponto dela ter inspirado esta iniciativa?...

Um comentário:

  1. Quanto aos presos com pena vencida: há uma série de questões que levam a isso. Pouca informatização, pouca ciência de seus direitos, poucos defenspres públicos disponíveis. A lei no Brasil, infelizmente, ainda é mais dura com os pobres. Há alguma esperança de que esse quadro esteja se modificando.

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